Eu lembro bem daquela noite em que te conheci… bom… não posso dizer que conheci porque já conhecia, mas te conheci mesmo bem… sei que tu compreendes.
Chegaste com teu melhor terno de cavaleiro e cumprimentaste com respeito aos presentes que éramos eu e minha solidão. O primeiro que fizeste após pegar uma cadeira foi meter a mão no casaco e tirar daí o teu coração, colocaste-o sobre a mesa e falaste: é teu, é teu por trinta minutos, podes começar o interrogatório. E eu comecei-o.
O que falei com ele é particular, por isso é que ninguém deve sabê-lo, amigo, é questão de respeito; mas… tranquilo, eu sei que logo ele vai te contar. Nada grave, nada tão sério, pois, sabes que tem coisas do coração que a razão não entende, e o que a razão não entende é irracional e o irracional é coisa de doidos… e os doidos, amigo… os doidos não são tão importantes para o mundo… os doidos são importantes para eles mesmos e para quem os quiser… Se tu fosses doido serias primordial para mim…
Logo disso, nossas cabeças contaram coisas absurdas, sobre niilismo e sintaxe… até que eu pedi que guardasses novamente teu coração, e quando isso fizeste foi suficiente para que soubesses tudo de mim. Eu só te conheci quando descobri em ti do que eu gosto; assim foi obvio para mim que minha cor favorita é a dos teus olhos pequenos quando me observam com sua calma habitual, que adoro o cheiro da tua proximidade, e que é tua mão, amigo, a que quero ter sempre perto.
Depois quiseste falar com meu coração, mas eu tive medo de que roubasses ele (nunca confiei em ninguém), então falaste de medos e de aventura, de doideras, de gostar dos bons amigos, de escrever histórias juntos e demais… até a hora na que teus olhos pequenos começaram a fechar-se. Foi assim que eu te conheci… bom… não posso dizer que conheci porque já conhecia, mas te conheci mesmo bem… sei que tu compreendes.