domingo, 30 de mayo de 2010

Já nem nos hippies se pode confiar!

Eram quase as dez da noite, eu estava fora da estação do metrô esperando a que chegassem me buscar, a noite era cálida, o lugar concorrido e o ar cheirava a cigarro que contaminava a atmosfera cultural de Coyoacán. Logo dum tempo de olhar de pé os carros na rua, colocou-se de frente um homem que dirigindo-se hacia mim e à garota que estava do meu lado (que também estava de pé e que também olhava os carros na rua até esse momento) deu a boa noite e pediu para a gente um peso para pagar o ônibus, pois ele tinha só um e ainda que precisava três ia pedir para o motorista lhe permitir subir pagando só dois.

Tinha uns 46 anos, era alto, magro e desalinhado; o cabelo era grande e cinzo, a barba estava descuidada, mas me deu certa confiança, parecia tanto com alguns dos professores da minha faculdade de Filosofia e Letras! Levaba uma famisa folgada com desenhos coloridos e um short tão curto que atentava contra as leis da decência pública; eu achei que em algum momento apareceria com ele uma perua pintada de cores, enchida de hippies, maconha e orgias... mas nunca chegou.

Ainda que não me sobra o dinheiro, tirei dois pesos do bolso das calças e dei pra ele que agradeceu insistentemente, depois caminhou em direção aos ônibus... Me senti bem... satisfeita, eu gosto de ajudar às pessoas, seria missionária e alfabetizaria crianças em regiões desérticas se eu não fosse tão preguiçosa... sorri. Mas... logo uma angustia se apoderou de mim quando alucinei ver os céus se abrir e raios cair como se Júpiter tevesse ficado bravo comigo: a garota do meu lado me olhou severamente, tirou o audiofone do ouvido direito e falou:

-Não deveu fazer isso. Não deve confiar em ninguém. Aqui porque tem pessoas você está segura, mas nunca mais o faça de novo.

A voz dela sonou como um trovão. Eu me senti pior que um cachorrinho repreendido, respondi com um leve "sim" e fiquei junto de ela, olhando para abaixo, com tanta vergonha por ser tão crédula das coisas que falam as pessoas na rua. Depois, ela foi embora acompanhada dum garoto em bicicleta. Eu me senti melhor e pensei que aquele hippie não parecia tão mau. Me absterei de contar essa história para a família... se aquela garota se ouviu como o mesmíssimo Júpiter bravo, sei que em casa quem me espera é Juno...

sábado, 15 de mayo de 2010

Os pratos

Não sei exatamente quando acontecerá isso, mas o dia que a gente precisar teremos que comprar alguns pratos; não se pode ficar a vida toda comendo sobre o papelão da pizza; embora, não deixaremos que os pratos nos escravizem, para evitar uma rebelião, apenas compraremos os suficientes: dois pratos rasos, dois pratos fundos, um pra a salada e é só, o sorvete o comeremos diretamente do pote. Do mesmo modo, os copos, as xícaras e as copas serão contadas; as colheres, os garfos e as facas também, pois não queremos armas mortais na nossa casa... nem ficar a tarde toda lavando a louça.

Mas não se preocupe, não será assim sempre. Um dia a gente sentirá saudades daquela bagunça que era a cozinha de mamãe e das brigas com os irmãos por causa de lavar a louça. Um dia, também, a família nos visitará e teremos que comprar uma luxuosa louça que seguramente só usaremos em datas especiais como o natal e as visitas de mãe. Outro dia jogará a seleção de futebol ou Santos o campeonato, e precisaremos de potes grandes para colocar tanta besteira que daremos de comer aos amigos.

Mas depois de todo isso, quando a família e os amigos forem embora, ficaremos sozinhos; ficaremos sozinhos: você, eu e nossa louça. Então teremos que inventar festas para convidar aos amigos e vizinhos a usar a louça; e quando sejamos velhos para as festas, teremos que adotar um cachorro que mastigue prato após prato; e quando o cachorro madurar, a gente terá que criar filhos para quebrar, com mãos ternas, os copos.

O bom dum casal inteligente, como nós, é que prevendo aquela responsabilidade futura de fazer filhos, teremos comprado pratos resistentes que agüentem todas as caídas, cada vez que, logo após almoçar, a gente queira fazer amor sobre a mesa. Depois, quando venham as crianças, teremos que nos desfazer deles: primeiro, porque nossos filhos terão que aprender responsabilidades e que nem tudo é indestrutível; segundo, porque com os meninos em casa, será mais difícil achar o momento de fazer amor sobre a mesa. Além de que, os pratos ficaram velhos, filho um e filho dois nos esquentarão a cabeça até comprar pra eles uns potes novos com desenhos de animaizinhos e o abecedário na beirada, mas nem sentiremos tanta saudade dos pratos velhos... a vida muda, a gente também.

jueves, 13 de mayo de 2010

As cobertas

Logo não sei o que faremos, mas é certo que um dia a gente terá que compartir a cama (respeito ao travesseiro, arranjaremos dois, ainda que nossas cabeças sejam pequenas, não sabemos as manias que o outro tem com os travesseiros); a escolha da coberta para vestir a cama será mesmo difícil, porque é seguro que eu quererei uma das princesas de Disney, e provavelmente você preferirá algum desenho violento nelas, ninguém admitirá as florezinhas, e talvez tudo termine com uma coberta listrada ou de quadradinhos em cores sóbrias aprovadas pela associação internacional de oftalmologia como seguras para a saúde.

Mas nem tudo termina aí, porque é necessário pensar desde agora na luta de corpos semi-dormidos nas madrugadas frias quando algum dos dois queira se apropriar da coberta comum a nosso calor; como solução, terá você sua coberta e eu a minha, infinitamente úteis, não só para não passar frio, pois também serão elas nossa ferramenta criadora da distância que um casal precisa criar quando briga, mesmo que na madrugada nos arrastemos com arrependido esforço para abraçar-nos e dormir na ternura da reconciliação.

As mesmas também servirão para jogar no chão na euforia queimante de fazer amor, só com a intenção de evitar elas pegarem fogo; pois você sabe que as cobertas custam dinheiro e o dinheiro não sai das árvores, imagine fazer amor cada noite acendendo um par de cobertas e depois esvaziar um extintor para apagá-las, nossa economia, que então não será tão boa, ficará pior; e talvez fique tão má que uma madrugada, com o último par de cobertas que conseguíssemos comprar, teremos que decidir entre não fazer mais amor para conservar a integridade molecular delas e dormir aquecidos; ou fazer amor, incinerá-las pra sempre e passar o resto das nossas noites tremendo de frio; ou (rogo considerar amplamente esta última opção) fazer amor a noite toda, as noites todas queimar-nos com nossas próprias peles, e não passar mais frio na hora de dormir, nem mesmo dormir...

A primeira vez

Minha primeira vez... não mesmo nem tanto assim a primeira vez que escrevo num blog, mas sim a primeirinha que escrevo num blog em outra língua diferente à minha; portanto, desde agora lhes peço desculpas e me peço desculpas por todos os erros gramáticos, ortográficos e lingüísticos que sei que vou cometer, que seguramente olharei no futuro e quererei me jogar de tanta vergonha desde um séptimo andar, assim sou eu de perfeccionista.
Mas, já era hora de começar a criar em português.
Com a infrecuência que me carateriza... postarei cem vezes num dia, dois outra e nada numa semana, mas postarei; aquilo que crie, as crônicas, os poemas, os contos, as reflexões e sei lá... o universo da imaginação é tão grande...
Bem-vindos, eu me despido...