sábado, 5 de junio de 2010

As brigas

A primeira vez que a gente brigar, você falará “é normal em um casal, vai passar…” e isso será suficiente para saber que serei sua mulher o resto da vida.

Um dia brigaremos por meus ciumes, outro pela hora em que você chega, algum outro por seus ciumes, logo porque me sinto sozinha. Um dia será porque eu, egoísta, não lhe satisfiz na cama, outro porque você, vingativo, cobrou do mesmo jeito. Um dia, quando a vida nos dera filhos, brigaremos por causa deles, ou porque eu sobreprotegerei eles ou porque você não será um pai tão firme. Outro dia será por ciumes, ciumes de alguns olhos que te viram num passado remoto, desses que não fazem sentido algum, ciumes tontos.

E quando eu perder a cabeça… você perderá o sentido inteiro, e os argumentos serão espadas para nossas palavras soldados. No final, ninguém ganhará a batalha porque a causa esteve perdida desde antes de começar a discusão, porque no duelo tentávamos ter a razão sem perceber que a maior razão do mundo esteve frente à gente o tempo todo levando nossos nomes.

Então eu me arrependerei e calarei por orgulho; você, por orgulho também, nem se arrependerá e ficará bravo. Longe de nós pensaremos no outro ao fechar os olhos: lhe imaginarei com blusa de couro e aquele sorriso coquete que eu adoro, e no meu peito se açoitarão ondas ternura por você; lhe amarei mais do que lhe odeiei enquanto brigávamos, e com voz tranquila penetrarei seu orgulhoso campo pretendendo reconsiderar; é seguro que você se negará, ainda raivoso, e eu lembrarei aquelas suas palavras… “é normal em um casal, vai passar…” e ficarei tranquila tentando enobrecer seu coração com carícias suaves e olhares doces… finalmente, um dia terá que passar…

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